CIPA/HRSJ AVALIA ACIDENTES DE 2015

No ano de 2015 foram registrados 74 acidentes de trabalho no Serviço de Atendimento ao Servidor, onde destacamos 19 acidentes com perfurocortante, 14 por queda, 14 respingo/secreção e 13 por esforço/mau jeito. Na avaliação da CIPA o número de ocorrência registrado ainda é alto, é possível diminuir, mas para tanto, é preciso o empenho de todos os servidores para garantir o uso de EPI, principalmente máscara e óculos, e o correto descarte do material perfurocortante. Confira os dados no gráfico abaixo:

Quando analisamos o gráfico com os dados de 2015 e 2014 verificamos que, embora o número de acidentes seja igual ao do ano anterior, houve redução de 24% nos acidentes com perfurocortante. A redução deste tipo de acidente deve ser sempre motivo de comemoração, pois seu potencial de contaminação pode gerar muito transtorno ao servidor e a sua família. Importante também lembrar que no ano de 2013 houve 62 notificações de acidentes com perfurocortante e, quando comparado ao ano de 2015, observamos então uma redução de 226%. 

Esta diminuição certamente está diretamente relacionada ao fornecimento, de forma individualizada pelo Serviço de Farmácia, das lancetas para realização do HGT, pois essa medida possibilitou a diminuição drástica do uso de agulha de insulina para realizar esse procedimento. Claro que não podemos esquecer as campanhas pelo correto descarte de material perfurocortante e do trabalho da Comissão de Resíduos e CCIH.

A CIPA/HRSJ chama a atenção que no gráfico acima aparece um novo tipo de acidente denominado de esforço/mau jeito, que até o ano de passado não havia registro. Este tipo de ocorrência está relacionado aos acidentes gerados durante a realização de esforço físico durante a realização de uma determinada tarefa no local de trabalho. O registro deste tipo de acidente se deve, certamente, ao trabalho de divulgação do Serviço de atendimento aos Servidores e ao trabalho dos membros da CIPA.


O objetivo principal da CIPA é a "prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do servidor". É uma tarefa muito importante e deve ser de forma contínua, apenas um pequeno grupo não dará conta dessa missão, é preciso sempre a participação e o compromisso de todos. Neste sentido, queremos lembrar que, no mês de Abril deste ano, haverá renovação dos membros da CIPA. Faça a discussão com os seus colegas de setor e indique candidatos para concorrer na eleição da CIPA/HRSJ. 

A SOCIEDADE DO CANSAÇO

Há uma grande discussão pelo mundo sobre a “sociedade do cansaço”. Onde seu principal formulador é um coreano que ensina filosofia em Berlim, Byung-Chul Han, cujo livro com o mesmo título acaba de ser lançado no Brasil (Vozes 2015). Com o objetivo de possibilitar o acesso a esta temática, que de alguma forma, está relacionada ao mundo do trabalho e as suas inter-relações, a CIPA/HRSJ reproduz abaixo um texto que trata sobre o cansaço na sociedade moderna.

A Sociedade do Cansaço

Que maneira de viver, que sintomas, que doenças estão a marcar-nos hoje?Que mudanças e aprendizagens urge lançar?Uma breve apresentação do livro “A Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han, em colaboração com o Mensageiro de Santo António

Byung-Chul Han é sul-coreano. Depois de estudar Metalurgia no seu país natal, rumou à Alemanha, onde se doutorou em Filosofia, sendo actualmente professor na Universidade de Artes de Berlim. É sobre a sua obra «A Sociedade do Cansaço» que nos debruçamos.

A sociedade ocidental do século XXI é uma sociedade marcada pelas doenças neuronais – depressão, stress, hiperactividade, deficit de atenção (repare-se nas crianças!). Estas doenças ocupam hoje o lugar antes ocupado por doenças bacteriais ou virais, como a tuberculose ou a gripe. Mas as doenças bacteriais ou virais consistem essencialmente em elementos externos (bactérias, vírus) que afectam o nosso corpo, e aos quais podemos levantar defesas; já as doenças neuronais, por outro lado, vêm de dentro de nós, tornando-se a sua cura mais difícil.

É o estilo de vida ocidental que está a provocar esta onda crescente de doenças, com efeitos devastadores nas relações, nas famílias, na vida pessoal. Trata-se «da violência da positividade, que resulta da super-produção, do super-rendimento e da super-comunicação». O contexto laboral que marcou grande parte do século XX – industrial, disciplinado – está a mudar: hoje, as palavras-chave são motivação, iniciativa, rendimento. Muda o âmbito da violência: já não uma violência vinda de fora – as ordens dadas por um patrão, as sirenes das fábricas – mas uma violência que se exerce na pessoa a partir de dentro – na necessidade de ser produtiva, audaz, empreendedora. Mas, e quando a pessoa não consegue atingir os «objectivos» a que se propõe e a que é proposta?

É a sociedade do «yes, we can», do «like». Como lidamos com o fracasso, experiência fundamental numa vida humana em construção, mas uma experiência que não tem lugar na sociedade moderna? Hoje, o trabalhador modelo é o trabalhador capaz domultitasking – ser capaz de realizar, na perfeição, múltiplas tarefas, ao mesmo tempo. Mas as grandes criações humanas – na ciência, na cultura, na arte – só foram possíveis através de longos períodos de atenção, silêncio e concentração. Do mesmo modo, as nossas relações familiares sofrem quando somos incapazes de lhes conceder a nossa total atenção – algo difícil no meio de todas as distrações e solicitações que nos atingem. O excesso que caracteriza a sociedade ocidental – excesso de informação, de comunicação, de emoções, de objectivos – provocam uma dispersão na pessoa, uma incapacidade de estar centrada, um desgaste mental e físico insuportável.

Como lidar com esta realidade? Como aprender a gerir e a controlar os infinitos estímulos que nos afectam, desde a comunicação à internet, passando pelas imagens e pela violência dos telejornais? Como ser capaz de «desligar»? Urge (re)aprender a arte da atenção, da escuta, do silêncio, do deter-se, do dar espaço, do não cair nas «engrenagens» de consumo e produção, para que o ser humano não se converta «numa máquina de rendimento, cujo objectivo consiste no funcionamento sem alterações e no máximo de rendimento».

Trata-se de crescer na pedagogia do olhar: «Aprender a ver significa acostumar o olho a observar com calma e com paciência, a deixar que as coisas se aproximem dos nossos olhos, quer dizer, educar o olho para uma profunda e contemplativa atenção, para um olhar alargado e pausado. Este aprender a olhar constitui o primeiro ensinamento preliminar para a espiritualidade». Curiosamente, o autor termina a sua obra propondo um outro tipo de Cansaço – o cansaço do Sábado bíblico, do descanso como um criar espaço, um dia em que – segundo o texto bíblico – Deus já não cria e, por isso, a Criação pode chegar à sua Plenitude. Trata-se, para o autor, de permitir que o Espírito inspire.

Byung-Chul Han, “A Sociedade do Cansaço”, Lisboa 2014. Artigo publicado na edição de Março do Mensageiro de Santo António